Este mês, a OTW (Organização para Obras Transformativas) celebra a Transformative Works and Cultures – TWC (Culturas e Obras Transformativas), a publicação académica online internacional, revista por pares, da OTW, que se foca em estudos sobre os média, e que acabou de publicar a sua 20ª edição. Não te esqueças de te juntares a nós no dia 19 de Setembro para o nosso chat em direto.
Hoje, vamos explorar a história da TWC. Paul Booth e Lucy Bennett são autores da TWC, fazem revisões de pares frequentes para o jornal, e, a convite, já editaram uma edição em conjunto; Paul também pertence à direção do editorial da TWC. Amanda Odom é uma autora que já escreveu dois artigos para o Symposium. Os três responderam, com grande amabilidade, a algumas perguntas acerca das suas experiências no jornal e na área dos estudos sobre fandoms.
A 20ª edição do jornal é um grande marco. Já passaram sete anos desde que foi publicado o primeiro volume. Sentem alguma surpresa pela TWC ainda continuar em grande?
Paul: Não estou de todo surpreendido com o sucesso da TWC. Desde a sua primeira edição, tem publicado estudos académicos com qualidade e rigor, o que tem sido uma dádiva para os estudos sobre fãs (e sobre fandoms em geral). Eu sei que a publicação aberta no mundo académico – isto é, uma publicação que não reside por trás de pagamentos e de formas obsoletas de bolsas isoladas – é vista em muitas partes da vida académica como tendo menos valor, mas a TWC tem provado exatamente o contrário. Ao publicar num estilo que tenta igualar o dos próprios grupos de fãs, ao permitir que todas as pessoas possam aceder ao jornal e aprender com ele, a TWC tornou os estudos académicos sobre fandoms mais acessíveis a pessoas académicas e a fãs (e a pessoas aca-fãs, fãs-académicas, fã-estudiosas ou quaisquer outras designações apropriadas!). A área de estudos sobre fãs cresceu devido precisamente a este acesso aberto – ao oferecer artigos com interesse e fundamentados a pessoas que habitualmente não se considerariam parte da disciplina académica de “estudos sobre fãs”, a TWC mostrou ao público o que significa ser uma pessoa académica e o que significa trabalhar na área académica no século XXI. A TWC tem realmente alargado a área e permite que muitas pessoas acedam a trabalhos a que provavelmente nunca tiveram hipótese de aceder antes. Merecem receber um elogio no seu aniversário por todo este trabalho tão importante! Todos nós prosperamos graças à TWC.
Lucy: Nem por sombras! Eu penso que o jornal é um testamento absoluto à vitalidade da área neste momento. Sinto que os estudos sobre fandoms estão numa etapa de desenvolvimento muito empolgante – estão a aparecer novas pessoas académicas e, muito importante, a área está a começar a refletir mais sobre si própria, procurando falhas e omissões e tentando chamar a nossa atenção coletiva para tal. As conferências deste ano (PCA [conferência da Popular Culture Association (Associação de Cultura Popular)], SCMS [conferência da Society for Cinema and Media Studies (Sociedade para Estudos sobre Cinema e os Média], FSN [conferência da Fan Studies Network (Rede de Estudos sobre Fãs)]) e o diálogo que se gerou entre elas demonstra a energia que se tem construído. Sinto que a TWC se tem desenvolvido de acordo com isto, conseguindo produzir um trabalho incrível, juntamente com edições especiais bastante oportunas e importantes. Este incentivo às edições especiais em particular, na minha opinião, tem reforçado a energia e a direção do jornal, para além de enfatizar a proteção de obras de fãs e das suas fontes – um fator extremamente vital dentro da investigação sobre fandom.
O facto de ser uma publicação de acesso aberto é também muito importante no clima académico atual, tornando este trabalho mais disponível e acessível a uma audiência mais vasta. Acho que este é um recurso extremamente valioso do jornal.
Também quero dizer – considero também que o sucesso da TWC tem tido uma grande ajuda através do enorme apoio das práticas de edição de Kristina e Karen. Como autora e também como editora convidada, consigo ver quão valiosos são os seus conselhos durante o processo. O seu incentivo e apoio a pessoas autoras novas ou veteranas é a jóia da TWC.
Por isso, em geral, não estou nada surpreendida que a TWC ainda esteja em grande. Tinha grandes esperanças para o jornal quando li as primeiras edições e estou bastante contente com a forma como se tem desenvolvido e excedido as minhas expectativas iniciais.
Amanda: Eu estaria muito surpreendida se assim não fosse. As indústrias do cinema, banda desenhada e jogos de vídeo (para nomear algumas) têm abraçado as culturas de fãs mais do que nunca. Podemos ver isto nos tipos de filmes com maior sucesso de bilheteira nos últimos anos (incluindo The Dark Knight – O Cavaleiro das Trevas, The Avengers – Os Vingadores, The Hunger Games – Os Jogos da Fome, e a série Harry Potter). Podemos olhar para os realizadores favoritos das fandoms, como Joss Whedon e James Gunn (que começou ele próprio por trabalhar com a equipa Troma, uma favorita da fandom de longa data), a quem têm sido dados os recursos para fazer esses filmes de sucesso. Podemos vê-lo no aumento de pessoas autoras “populares” que começaram por e/ou continuam a escrever ficção de fãs. De facto, muitas publicações periódicas não-académicas estão a considerar o lugar que a ficção de fãs ocupa nos média modernos (o The Washington Post, a Wired, e a Entertainment Weekly publicaram todos artigos sobre este assunto durante o ano passado). O facto de guiões sobre Universos Alternativos (AU) estarem a tornar-se cada vez mais populares (lembro-me de Star Wars – Guerra das Estrelas e Once Upon a Time – Era Uma Vez) é outro indício da fluidez dos textos canon.
Com romances como Grey e Twilight – Crepúsculo, a reformulação de Star Trek e Star Wars e o novo prestígio de convenções como SDCC e NYCC, estes últimos anos têm presenciado um maior e mais alargado destaque pelos média convencionais às obras transformativas e comunidades de fãs. Presenciaram um aumento na quantidade e variedade de artigos submetidos relacionado com isto?
Paul: Tenho que admitir que, embora a fandom em si se esteja a tornar num tipo de identidade mais comum (existem mais pessoas que se identificam como fãs e mais pessoas que se sentem orgulhosas da sua identidade como fãs), não tenho presenciado um aumento na quantidade e variedade de artigos submetidos. Claro que, de qualquer forma, eu só vejo uma pequena percentagem dos artigos – apenas aqueles que me pedem para rever e os destinados para a minha edição especial. Por isso, não tenho uma visão geral de todas as submissões. Os artigos publicados hoje em dia são de tão alta qualidade como os de 2008 e as edições gerais, em especial, representam uma grande variedade de conteúdo acerca de obras transformativas. Se tanto, o que tenho presenciado de uma forma mais geral nos estudos académicos sobre fandoms é uma crítica e uma nova leitura desta narrativa dominante. Pessoas autoras como Kristina Busse, Matt Hills, e Suzanne Scott estão a complicar esta identidade “convencional” e a ilustrar que apenas determinadas identidades é que se estão a tornar populares e apenas certos tipos de fandoms são exaltadas. Embora tenhamos ultrapassado a perceção dicotómica de que “fãs de desporto são normais enquanto fãs dos média são alvo de marginalização,” acho que temos um longo caminho a percorrer até que fãs dos média (especificamente fãs femininas, não-brancas, e transformativas) recebam o mesmo tipo de validação que outros tipos de fãs.
Lucy: Eu acho que, até certo ponto, este destaque mais alargado dado às fandoms tem atraído mais pessoas académicas para os estudos sobre fandoms em geral e, portanto, para o jornal. É-me difícil avaliar isto em termos de submissões em geral, mas, como leitora da TWC e revisora, tenho observado um âmbito mais alargado de material estudado e publicado. Acho que o destaque por parte dos média é muito empolgante quanto a explorar o que este cenário significa, tanto para pessoas académicas de estudos sobre fãs como para fãs. Acho que a TWC tem refletido esta energia muito bem, mas sempre o fez, desde as suas primeiras edições.
Amanda: Os pontos de discussão de publicações anteriores continuam vitais e relevantes hoje em dia, tal como quando foram originalmente escritos. Olhando para a primeira edição, noto, por exemplo, que houve um artigo sobre “Participatory democracy and Hillary Clinton’s marginalized fandom” (Democracia participatória e a fandom marginalizada de Hillary Clinton).
Interessantemente, o artigo “‘Once more a kingly quest’: Fan games and the classic adventure genre” (‘Uma missão digna de um rei’: Jogos de fãs e o género clássico de aventura) de 2009 é ainda mais relevante, pois a série Kings Quest está a lançar um novo jogo e tanto Gabriel Knight como Grim Fandango tiveram edições renovadas nos seus aniversários e muitas companhias de jogos retro ou de pequena imprensa têm recorrido ao Kickstarter e a outras campanhas de financiamento coletivo para tornar os sonhos de fãs e pessoas criadoras realidade.
A definição de fandom é diversa. O jornal continua a abraçar esta diversidade através da discussão de música, desporto, romances, bandas desenhadas, filmes e jogos e da forma como tem explorado a história, considerado modas futuras e examinado as fandoms “em acção”, ao explorar convenções e grupos atuais. Temas sobre a experiência participatória, sobre questões de propriedade (de corpos, de texto) e sobre as comunidades de fandoms têm sido refinados nas correntes sociais dominantes. À medida que a participação de fãs continua a evoluir, o jornal tem conseguido examinar vários micro e macro elementos da área.
Enquanto pessoas revisoras, podem dizer-nos o que é que, num determinado artigo, não só agarra a vossa atenção como também torna esse artigo numa escolha perfeita para publicar no jornal?
Paul: Para mim, os artigos mais empolgantes são aqueles que me apontam para novas direções nos estudos sobre fãs. Penso que o poder de publicações como a TWC está no seu trabalho inovador. Está a impulsionar a área para novos caminhos. Um artigo publicável tem que se basear na literatura mas não pode depender tanto dela que acaba por apenas reafirmar o que já foi descoberto. Tem que mostrar também que a pessoa autora fez o seu trabalho de casa, que sabe as palavras chave nessa área. Como área, já vamos além de apenas “Jenkins 1992” (embora ainda seja importante!): já foram publicados tantos trabalhos acerca de estudos sobre fãs nos últimos dez anos que se torna importante reconhecer as principais mudanças na disciplina. Claro que também é uma ajuda o facto de a área não ser tão grande a ponto de tornar esta tarefa impossível! Mas o mais importante para mim será sempre encontrar argumentos originais. Adoro fazer revisões e estar na vanguarda do campo – saber o que vem aí mais à frente é emocionante para mim.
Lucy: Pessoalmente, existem muitas áreas capazes de me empolgar relativamente a um potencial artigo da TWC. Pode ser uma tentativa ousada quanto ao método, um argumento forte ou apenas uma exploração de uma área que previamente ainda não tenha sido estudada de forma extensiva. Estudos que vão de encontro à literatura e que vão para além do panorama usual também podem ser muito atrativos. Considero que a ênfase nas práticas transformativas pode invocar alguns estudos muito dinâmicos e aqueles que exploram uma área nova, ou anteriormente escassamente examinada, conseguem chamam-me a atenção logo desde o início.
Amanda: Qualquer texto deve agarrar a nossa atenção, uma vez que estabelece um elemento de relevância a uma visão mais alargada. No que toca a estudos sobre fãs, adoro examinar ligações entre um texto em específico e um género mais amplo, um género e um público alvo, um público alvo e uma comunidade.
Podem contar-nos um pouco acerca do processo de edição antes da produção? A equipa editorial trabalha em conjunto com as pessoas autoras? Em geral, há muitas alterações feitas a um artigo desde que é submetido até ser publicado?
Paul: Eu só posso falar das minhas próprias experiências com o jornal; os artigos que publiquei e a edição especial que eu e Lucy compusemos. Em geral, a quantidade de alterações que um artigo sofre pode variar bastante daquilo que foi submetido e consoante o tipo de revisões necessárias. As revisões de conteúdo por pares tanto podem ser trabalhosas como mínimas; depende muito de quão sólido é o artigo aquando da sua submissão inicial. O primeiro artigo que submeti para o jornal (para a edição número 9, “Fan/Remix Video”) era muito diferente do que foi eventualmente publicado, devido ao excelente processo de revisão por pares. Recebi um feedback extraordinário que ajudou o artigo a tornar-se mais forte – mas sofreu muitas alterações no processo! O outro artigo que publiquei, na edição número 18, não necessitou de uma revisão de conteúdo tão minuciosa. (Isto não é um comentário às revisões ou edições, que são consistentemente boas; é apenas uma reflexão de diferentes artigos, escritos em alturas diferentes da minha carreira.) Ambos os artigos publicados eram diferentes da submissão original – diferentes e significativamente melhores! Esta é uma das razões pelas quais eu gosto tanto de artigos revistos por pares: considero que a minha própria escrita tem beneficiado imenso da qualidade de revisões por pares que recebi, tanto na TWC como na maioria dos outros jornais em que já publiquei, por isso tento oferecer feedback de qualidade em troca.
A publicação de uma edição especial tem os seus próprios desafios e alegrias, naturalmente – eu e Lucy trabalhámos de forma mais próxima com as pessoas editoras para fornecer feedback às pessoas autoras. Também fui capaz de seguir o processo de revisão mais de perto, e fiquei incrivelmente impressionado com a qualidade das revisões. Acontecia sempre que eu, Lucy e a pessoa autora de um artigo líamos esse artigo várias vezes, pensávamos que já estava perfeito, e depois recebíamo-lo de volta cheio de apontamentos a vermelho! O trabalho de revisão não é muitas vezes divulgado, mas nunca passa despercebido – ou melhor, nunca ninguém repara nele porque é mesmo assim tão bom.
Lucy: A equipa de edição da TWC guia-nos sempre com os seus conselhos e apoio constantes, o que é uma parte extremamente valiosa do processo. A minha experiência como convidada para edição e publicação tem consistentemente corrido bem, principalmente devido à equipa de edição que trabalhou lado a lado com as pessoas editoras convidadas. Sim, um artigo pode mudar consideravelmente durante o processo, embora tal seja diferente para cada artigo. O processo de revisão por pares da TWC, no qual estive envolvida durante alguns anos como revisora, é sempre um processo construtivo, cujo feedback serve o propósito de ajudar a pessoa autora a tornar o seu artigo o mais sólido e robusto possível.
Uma coisa que as pessoas autoras por vezes descuram é a falta de construção e realçe explícito de um argumento na introdução que depois seja explorado ao longo de todo o artigo, ou então omitem uma secção robusta acerca dos métodos – uma omissão significativa, pois o jornal enfatiza a importância de explicar a metodologia, especialmente se estiverem envolvidas fontes relativas a fãs. Ver a transformação que ocorre durante a revisão pode ser uma experiência fantástica. Outros artigos poderão precisar apenas de muito poucas correções, mas eu diria, por experiência própria, que são muito poucos os artigos que não sofrem algum grau de melhoria através dos comentários e sugestões provenientes do processo de revisão por pares da TWC.
Amanda: Na minha experiência como editora e escritora, acho que depende bastante. Em alguns casos, são submetidas dissertações que simplesmente parecem “brilhar”. Têm um bom suporte, são relevantes e delineiam o tema de uma questão em particular, e este tipo de textos pode ser bastante emocionante.
Por vezes, uma pessoa pode estar prestes a descobrir algo com a sua pesquisa, mas pode ter preocupações acerca do que deve estar explicitamente definido ou precisa de ser mais desenvolvido ou mais detalhado, dependendo do público alvo ou do propósito geral do texto. (Na verdade, com um jornal que se foca de forma tão abrangente nas comunidades de fãs, é preciso ter cuidado; algumas pessoas que lêem o jornal poderão estar familiarizadas com ficção de fãs sobre AUs, mas ao mesmo tempo perdidas no que toca ao Live Action Role Playing (LARPing) (Role Playing ao Vivo).) Então, trocam-se emails e correspondência e são dadas sugestões, perceções sobre a interpretação do texto e, por vezes, até ocorre partilha de pesquisa ou recursos.
Todos vocês (Lucy, Paul e Amanda) são autores do jornal. O que é que vos inspira na cultura de fãs e estudos sobre os média?
Paul: Oh, isto é uma pergunta tão complexa! Quando reduzo a cultura de fãs e os estudos sobre os média àquilo que neles me atrai especificamente, acaba por ser o próprio impacto das fandoms no mundo. Acredito que as fandoms são uma das partes mais importantes da nossa cultura e não apenas por (partes delas) se terem tornado populares nos últimos anos. Associamos fãs a textos dos média, especialmente numa publicação como a TWC, e há uma boa razão para tal. Fãs são visíveis; fazem cosplay, escrevem ficção, criam vídeos. 130.000 vão à Comic-con. Milhões usam o Tumblr, o Twitter ou o Wattpad para conhecer pessoas e falar sobre séries, filmes, livros e outros favoritos.
Isto é, sem dúvida, importante. As pessoas estão em contacto com os média durante quase 15 horas e meia por dia, o que significa que passamos mais tempo sujeitos aos média do que passamos a sonhar. É então surpresa alguma que escolhamos concentrar-nos nos nossos média favoritos? As fandoms são uma representação visível desta interação e a forma como fãs criticam os média e tentam melhorá-los (independentemente de como isto é definido) é uma parte crucial das nossas vidas nos média. Estudos sobre fãs, como uma forma de dar sentido a esta ação e de a ilustrar para outras pessoas, são igualmente cruciais para demonstrar o impacto de fandoms na nossa cultura.
Mas as fandoms são mais do que os média em si e fãs representam um sentimento muito mais universal: de afeto positivo, de comunidade, de compromisso ou mudança social. Vemos fandoms em rituais religiosos, vemos fandoms em histórias à volta da fogueira, vemos fandoms em envolvimentos políticos. O padrão emocional das fandoms pode estender-se às partes mais entusiasmantes e dramáticas da nossa vida cultural. Os estudos sobre fãs permitem-nos contextualizar, historiar e personalizar as atividades de fãs hoje em dia e aplicar isto a todos os outros aspetos da nossa vida.
O melhor nas fandoms representa o melhor em nós.
(Por favor notem que também não estou a ignorar deliberadamente alguns dos aspetos mais negativos das fandoms – estudar o antagonismo entre fãs também nos ajuda a ver discordâncias noutras áreas da vida cultural. Mas as fandoms são uma experiência tão positiva para tantas pessoas; é isso que acho tão refrescante e inspiração constante para ideias.)
Lucy: Para mim, diria que os elementos da cultura de fãs que mais me fascinam são a paixão e o poder que podemos lá encontrar – duas áreas que se encontram muitas vezes interligadas em redor do alvo de fãs e da sua demonstração de afeto. Gosto imenso de tentar desvendar uma cultura de fãs para poder explorar as suas principais áreas e as noções que podem provocar prazer e conflito. Há tanto que pode ser explorado dentro dos estudos sobre fãs – acho-o muito inspirador.
Amanda: Eu própria sou uma fã. Adoro Batman, Sandman, Silent Hill, Alien… adoro ler/ver textos das minhas séries favoritas e tenho a sorte de ter uma profissão que me permite explorá-las mais ainda. Adoro ler sobre como as pessoas reagem a e dentro de comunidades de fãs. Adoro ver o que artistas conseguem fazer para expandir, redefinir ou desconstruir canons. Ao explorar texto como transformação, sentimos sempre que estamos a começar de raiz, mesmo quando o texto em questão tem mais de quinhentos anos.
Onde vêem o jornal daqui a outras 20 edições? Onde vêem as obras transformativas dentro de outros sete anos?
Paul: A previsão do futuro está repleta de falhanços. Dito isto, espero que a TWC continue em grande e a publicar trabalhos inovadores. Adoraria ainda estar associado a ela – não vejo isso a mudar em breve! E, daqui a sete anos, acho que as obras transformativas serão igualmente fixes, inovadoras e revigorantes tal como agora. Suspeito que haverá uma nova rainha das redes sociais onde as partilhar (Tumblr… tens os dias contados) mas serão fantásticas na mesma. Quanto mais as coisas mudam, mais ficam na mesma.
Lucy: Vejo-a a continuar em grande – talvez até a conseguir publicar mais edições por ano, se fosse possível! Em sete anos, as obras transformativas poderão estar a expandir-se muito mais devido às mudanças na tecnologia (e às respostas a estas ferramentas) e também talvez devido a uma maior integração de quem é alvo de uma fandom na sua própria fandom. Orlando Jones (que entrevistei em 2014 juntamente com a Bertha Chin para um artigo no volume 17 da TWC) é um exemplo convincente de como um indivíduo com uma fandom pode, de uma forma rica (e também por vezes controversa), estabelecer contacto com redes e comunidades online.
Amanda: Certamente, acafãs (pessoas fãs e académicas) não são um fenómeno novo; quem faz investigação tende a explorar o que sente ser relevante e interessante no que se refere às suas áreas de estudo.
Organizações como a Fan Studies Network (Rede de Estudos sobre Fãs) têm introduzido novas comunidades e publicações baseadas em investigação, de forma semelhante ao Journal of Fandom Studies (Jornal de Estudos sobre Fandoms), por isso há uma expansão da discussão, enquanto que instituições como a Universidade de Iowa também estão a ajudar a garantir que a história de fanzines é preservada através do estabelecimento de arquivos de publicações de fãs para futuras pessoas investigadoras e fãs.
Como parte do espetro de estudos sobre fãs, o jornal irá continuar a ter um lugar nas discussões especificamente porque, como disse, permite que haja fluidez e diversidade nas suas investigações.
No que toca a onde estarão as obras transformativas como área de estudos ou de interesse público, isso é uma questão muito vasta. Clássicos, personagens, tropos, etc, continuarão a ser reconfigurados; aguardo com interesse para ver o que será a próxima novidade e o que se tornará popular (outra vez).
E por fim, de que momento sentem mais orgulho na vossa associação com a TWC?
Paul: Estou incrivelmente orgulhoso de todo o trabalho que faço para a TWC. Acho que a edição especial sobre Fandom e Performance que eu e Lucy editámos foi uma experiência fantástica e com a qual aprendi muito. Mas acho que o momento em que me senti mais orgulhoso foi quando publiquei o meu primeiro artigo na TWC. Não estou muito entusiasmado com ele agora (não acho que seja a melhor coisa que alguma vez escrevi) e estou mais orgulhoso de outras coisas em que tenho trabalhado desde então – mas na altura, publicar na TWC foi uma grande conquista para mim; era um dos meus objetivos académicos. Por isso, embora pense que excedi a qualidade desse artigo no meu trabalho mais recente, ter sido aceite na TWC continua a ser um dos meus momentos de mais orgulho.
Lucy: Existem dois momentos que mais se destacaram para mim.
Primeiro, conseguir que o meu artigo fosse publicado! Foi a minha primeira submissão a um jornal e era um artigo baseado num capítulo da minha tese de doutoramento que se focava na fandom de R.E.M.. O artigo teve duas rondas de revisão por pares e aprendi tanto durante esse período. Quase desisti a certo ponto, mas Kristina e Karen apoiaram-me até ao fim. Consegui fazê-lo e desde então nunca mais olhei para trás. Este processo foi inestimável para mim e para o meu trabalho futuro. Ver o artigo finalmente publicado foi um momento de muito orgulho e ensinou-me uma mensagem que recomendo a outras pessoas: continuem em frente e não desistam!
Em segundo lugar, a edição especial sobre performance e performatividade na fandom (Vol. 18, 2015) que editei com Paul foi outro momento de grande orgulho. As pessoas que estavam originalmente a editá-la desistiram, e nós assumimos a tarefa numa fase muito tardia. Conseguimos juntar uma gama fantástica de pessoas autoras e tópicos num período de tempo muito curto. Quando dei um passo atrás e olhei para a versão final da edição, senti-me tão feliz pela amplitude e qualidade do trabalho no seu interior. É sempre um privilégio e uma alegria trabalhar com Paul, por isso também foi um processo muito agradável. Kristina e Karen também deram um apoio e uma ajuda incríveis e sinto-me muito orgulhosa das pessoas que escreveram os artigos nessa edição especial. Espero que haja muito mais oportunidades para trabalhar com a TWC e aguardo com grandes expectativas pelo menos outras vinte edições!
Amanda: Quando me pediram para fazer a edição por pares de um artigo para o jornal, fiquei muito orgulhosa de me juntar como revisora. No entanto, penso que saber que a TWC está a celebrar a sua 20ª edição é o meu maior motivo de orgulho.
Este artigo de notícias foi traduzido pela equipa voluntária de tradução da OTW. Para saberes mais sobre o nosso trabalho, visita a página de Tradução em transformativeworks.org.